A obra do fotógrafo sueco Åke Borglund faz parte do acervo de Mercedes Urquiza, colecionadora e pioneira que chegou a Brasília em 1957 numa memorável viagem de jipe na companhia de seu marido e seu pastor alemão — atraída pela aventura de acompanhar a construção da nova capital do Brasil no Cerrado virgem do Planalto Central. Na época, Åke Borglund já era um repórter fotográfico premiado na Europa, tendo trabalhado para importantes veículos da imprensa, como a Life Magazine, a National Geographic Magazine e outros mais. Em novembro daquele ano, ele realizou uma longa viagem pela América do Sul.

Quis o destino que o interesse pela incipiente construção da nova capital do Brasil o transformasse num artista cujo testemunho fotográfico ocupa lugar de destaque na história de Brasília. Com rara sensibilidade, Åke Borglund registrou para a posteridade o lado humano do que foi a construção da capital.

Mercedes Urquiza participou diretamente da produção de 800 fotos, após, a pedido do presidente Juscelino Kubitschek, ter começado a atuar como intérprete do fotógrafo. Posteriormente, em reconhecimento por seu trabalho, Borglund presenteou-lhe com uma pequena parte da coleção de fotografias da cidade.

Anos depois, foi à Suécia duas vezes para estabelecer tratativas com o artista, que culminaram na obtenção do acervo completo, que, assim, foi resgatado para o Brasil em 2010, incluindo duas coleções inéditas sobre a Argentina e o Chile. Mercedes Urquiza foi nomeada detentora exclusiva da coleção pouco antes do falecimento de Borglund, em 2012.

O acervo de Brasília produzido por Åke Borglund, documentando o cotidiano dos operários anônimos que estavam erguendo os primeiros prédios da futura capital, preenche todos os requisitos de um documento histórico. Ele foi considerado por Jorge Ricardo Wertheim, então representante da Unesco no Brasil, como “um trabalho notável pelo ineditismo da abordagem do fotógrafo, pelo seu valor histórico e pela qualidade artística”.